Conheça Géraldine Gobert, antiga aluna bem-sucedida da Nova SBE, numa entrevista exclusiva na qual fala sobre as mudanças que fez na sua carreira profissional e no seu estilo de vida e no que acredita ser crescer pessoal e profissionalmente.
Que está a fazer atualmente? E qual a característica mais gratificante da sua carreira?
A Lotus Seed [Semente de Lótus] já impactou a vida de mais de 3000 pessoas com jornadas que incluem uma combinação de design-thinking, meditação, atenção plena, compaixão, coaching e exercícios positivos de neuroplasticidade positiva.
A intenção é descobrir os mecanismos únicos da mente, que pensa, e do corpo, que sente, e o impacto que têm no foco, na criatividade, na tomada de decisões, no planeamento visionário, na comunicação e nos relacionamentos. Em vez de apenas “ouvir” ou “ler” coisas sobre a teoria, os participantes praticam, experienciam e cocriam a jornada. Isto é importante se nos quisermos treinar a formar novos caminhos no cérebro.
As jornadas consistem em formações de grupo online e offline, coaching e retiros na Bélgica e em Portugal que se focam em empresas, instituições de saúde, empresários e indivíduos que pretendem descobrir e atingir o seu potencial máximo.
O aspeto mais gratificante do que faço é ver a evolução e expansão de cada pessoa. Sinto-me muito grata quando alguém tem um momento "A-HA" de introspeção, consegue atingir determinados pensamentos ou consegue transformar sentimentos em forças e sonhos. Sinto-me abençoada por poder ter nem que seja um pequeno contributo na vida de alguém.
Sempre se sentiu fascinada pelos cuidados da mente e do corpo? Por que é que decidiu mudar o seu percurso considerando o que aprendeu e onde trabalhou antes?
Sempre me interessei pelo funcionamento da mente. Já desde os 12 anos de idade que lia livros sobre exercícios de relaxamento e técnicas de auto-hipnose. Mas como era apaixonada por matemática e me interessava por economia do desenvolvimento, acabei por escolher economia como área de estudo para depois estar preparada para os exames de carreira diplomática que queria fazer na Bélgica.
Foi então que professora Luisa Agante fez uma sessão de meditação connosco na aula. Fazia parte de uma sessão sobre vocação/marca pessoal. Incluía uma meditação sobre o nosso “dia ideal”, no qual tínhamos de imaginar como seria a nossa vida ideal, de manhã à noite, sem quaisquer restrições.
As imagens que o meu subconsciente formou eram completamente diferentes da vida que eu “pensava” que queria. Depois da meditação, apercebi-me de que o que minha mente queria (influenciada pelo ambiente) era diferente do que meu coração desejava.
Nesse verão fiz a minha primeira formação de meditação e desde então nunca mais parei. Comecei a meditar e a fazer cursos de desenvolvimento pessoal, meditação, coaching, etc.
No ano seguinte, fiz um plano de negócios para a disciplina de empreendedorismo da Professora Violetta Gerasymenko. Havia um centro de meditação, na altura, que oferecia formações online e offline para empresas e indivíduos, incluindo retiros. Na altura, a meditação ainda era vista um pouco como algo onírico, mas a professora Violetta motivou-me a sonhar além dos deveres impostos e a explorar as possibilidades.
É engraçado ver que o plano de negócios que fiz enquanto aluna há tantos anos continua a ser o plano que tenho agora. E é muito mais divertido do que alguma vez poderia ter imaginado.
Quem ou que experiências tiveram um impacto no seu percurso profissional?
A professora Agante teve, sem dúvida, um grande impacto na minha carreira. Mas também a abertura da Nova SBE enquanto escola de economia foi essencial. Isto e o facto de poder considerar um percurso diferente na área de economia e o facto de alguns professores me terem também motivado nesse sentido é o que distingue a Nova SBE.
Interesso-me mais por mecanismos de fortalecimento da economia do desenvolvimento (e menos por desenvolvimento macroeconómico), economia da felicidade, economia budista, empreendedorismo social e inovação social.
Fiz uma missão com o Move a fim de continuar a desenvolver um programa de microfinanças para pequenos empresários na ilha de São Tomé e Príncipe. Durante esses meses, aprendi muito mais do que qualquer livro poderia ensinar-me. Aprendi sobre a importância de uma abordagem em pirâmide e sobre a importância de tratar os outros como nossos pares em vez de querer impor um sistema de crenças sob uma cultura que não é a nossa.
O MakeSense.org impactou muito a minha visão de empreendedorismo e impacto social. Através do MakeSense organizei sessões de brainstorming e conferências para empreendedores, ONG e instituições em Portugal e na Bélgica. Isto fez com que aprendesse muito sobre criatividade, cocriação e dinamismos de mudança e mobilização.
O tempo em que trabalhei para o Institute of Attention and Mindfulness ensinou-me o que sei sobre a importância do corpo, da mente e atenção na vida quotidiana. Tive também a oportunidade de acompanhar um formador e muitos cursos em primeira mão. Todas estas experiências mostraram-me o seguinte:
● Teorias bonitas não significam nada a não ser que sejam experiências fundamentadas e de igual para igual;
● Por muito que querer “ajudar os outros” seja algo corajoso, tentem perceber se isso é a coisa mais fortalecedora que pode fazer por si e pela outra pessoa (muitas vezes não é);
● Dar força aos outros e capacitá-los é mais importante do que criar energia para ajudar;
● Tratar os outros enquanto pares é o “trabalho” mais importante que qualquer organização pode fazer;
● A inteligência mental e emocional é essencial para qualquer tipo de crescimento e inovação, seja pessoalmente, numa organização ou em todo o país.
Jim Morrison uma vez disse “there can't be any large-scale revolution until there's a personal revolution, on an individual level. It's got to happen inside first.” [Não pode haver uma revolução em grande-escala, se antes não houver a revolução individual da pessoa. Primeiro tem que acontecer cá dentro.]
Não importa o quão boa é a intenção, as pessoas e as instituições têm tanto de refletir em si próprias quanto sobre como mudar o mundo.
Se queremos inovar, precisamos de aprender a lidar com a nossa mente e as nossas emoções de forma mais eficaz. Se queremos que os outros cresçam, precisamos de crescer primeiro.
Que gostaria de saber na altura em que estava a graduar que só agora é que sabe?
A vida fica tão mais fácil quando seguimos o nosso coração e a nossa voz interior em vez das vozes que temos na cabeça (o que achamos que “devemos” fazer ou o que os outros querem que façamos).
Os pensamentos são ou o nosso maior parceiro ou o nosso pior inimigo. Aprendam a ligar-se à sabedoria do corpo para desencadearem possibilidades e não crenças limitativas.
A consciência que temos do nosso corpo e dos nossos sentimentos é essencial para fazer escolhas de vida e carreira. Os sentimentos dão-nos informações, especialmente os mais desafiantes. Não os ignorem. Aprendam com os mesmos.
Precisamos de experiências para aprender. Sair da nossa cabeça (e tirar a mesma dos livros) e explorar o mundo. Fazer coisas. Ter novas experiências. Ligarmo-nos às pessoas. Mas também arranjar tempo para voltamos a nós próprios. Sentir. Nunca deixar de aprendar. E repetir tudo isto.
Que competências adquiriu no seu percurso académico e quais são as que têm sido fundamentais para a sua carreira?
Durante a minha experiência académica, adquiri a capacidade de aprender rápido, do pensamento crítico, da análise e do pensamento estratégico. Competências que ainda uso diariamente. Para educar e criar cursos e experiências, para tomar decisões, para ver opções e soluções alternativas para problemas e olhar para as coisas através de diferentes perspetivas.
As capacidades fundamentais para a minha carreira foram aprender a observar, a desprender-me de pensamentos ou a usar pensamentos e ideias para ser criativa e aprender a fazê-lo com os sentimentos e com o corpo.
Depois de me graduar, fiz, durante anos, cursos intensivos nas áreas de meditação, coaching, mindfulness, compaixão e neuropsicologia.
Como conseguiu o seu primeiro emprego depois de se graduar? Que passos deu e que conselhos daria aos que estão agora a começar?
Perguntei a mim mesma “para quem gostaria de trabalhar? Para que mundo desejo contribuir? Em que é que acredito? Como é que gostaria de me sentir?”
Veio-me à cabeça uma empresa. Procurei pelo site e havia uma oferta de emprego. Candidatei-me e consegui a vaga.
O meu conselho é reservem algum tempo para refletir e sentir o que realmente querem fazer em vez de estarem só a ver ofertas de trabalho para cima e para baixo. Às vezes, o universo funciona de maneiras misteriosas.
Que memórias do seu tempo enquanto aluna da Nova SBE mais estima?
Sem dúvida, as sessões de personal branding e meditação com a professora Agante, o pensar fora da caixa com a disciplina de empreendedorismo da professora Gerasymenko, as aulas do professor Daniel Traça e como me motivaram a ler mais sobre visões alternativas de desenvolvimento. Também os meus amigos internacionais, que me mostraram tantas formas diferentes de ver as coisas, as noitadas nos edifícios da universidade a estudar para os exames (tinham a sua magia) e os amigos incríveis que conheci em Lisboa e que ainda hoje são como se fossem família.
Que conselho tem para dar aos alunos que agora se estão a graduar?
Sigam o vosso coração e a vossa intuição. Não imponham limites a vocês próprios e aprendam novas ferramentas para permitir que surjam novas possibilidades na vossa mente e no vosso corpo. Ah! E arranjem algum tempo para ouvir este discurso do Steve Jobs:
Ele diz “Your heart already knows what you want to become” [O vosso coração já sabe o que quer ser] e ele próprio foi um grande meditador.