A realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal
Notícias | 08 fevereiro 2024 A realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal

A 8 de fevereiro, no Colégio Efanor em Matosinhos, decorreu um debate sobre a realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público português, no qual participou Luís Catela Nunes, Diretor Científico do Centro de Economia da Educação da Nova SBE e Membro do Conselho Consultivo do EDULOG.

Motivado pela recente publicação do estudo "Professores sob a lupa: A realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal (2016/17 - 2020/21)", este debate contou também com a participação de Isabel Flores, coordenadora do estudo e investigadora do ISCTE, Nuno Neto Rodrigues, Diretor Geral da DGEEC (Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência) e David Justino, ex-ministro da Educação e Membro do Conselho Consultivo do EDULOG.

Moderado por Samuel Silva, jornalista do Público, o debate focou-se em dois temas – o absentismo dos professores, analisado pela primeira vez no estudo de Isabel Flores, e a escassez de professores que se vai acentuar gradualmente nos próximos anos, provocada pela reforma dos mais velhos e pela falta de atratividade da profissão para os mais jovens. Este segundo tema encontra-se analisado no "Estudo de diagnóstico de necessidades docentes de 2021 a 2030", do Centro de Economia da Educação da Nova SBE, coordenado por Luís Catela Nunes.

No que diz respeito ao absentismo, o estudo de Isabel Flores indica que, todos os dias, há 5000 turmas em todo o país em que pelo menos um professor está a faltar sem ter alguém que o substitua. Um número significativo destas faltas são dadas por doença continuada. Efetivamente, cerca de 40% dos professores do ensino público nunca faltam, 50% faltam ocasionalmente e os restantes 10% são responsáveis por 80% das faltas dadas. O último grupo é constituído por professores com idades que rondam os 60 anos e com um historial de eventos de doença continuada. A estabilidade dos níveis de absentismo ao longo dos cinco anos analisados pelo estudo e das diferentes regiões do país fazem deste um fenómeno previsível, o que permite que os decisores públicos possam tê-lo em conta ao fazerem o planeamento das necessidades da gestão escolar.

Sobre o problema da escassez de professores, conforme refere Luís Catela Nunes, a sua distribuição não é homogénea, havendo regiões do país e áreas científicas para as quais, perante as crescentes necessidades de recrutamento, é muito mais difícil atraír novos professores. Exemplos destas são a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve, por serem regiões com custos de alojamento muito elevados, e as áreas STEM (acrónimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), uma vez que, com as mesmas qualificações, um profissional destas áreas consegue obter salários muito mais elevados em profissões não associadas à docência.

Referindo-se à criação de incentivos financeiros para atrair docentes em áreas geográficas e científicas específicas, Luís Catela Nunes frisa que tais incentivos poderão não ser suficientes para resolver o problema, sendo necessário o desenvolvimento de um pacote de atratividade que inclua a existência de um ambiente positivo na escola, a criação de mentorias e processos de indução de novos professores por professores mais experientes,  a garantia de contratos estáveis e a desburocratização do trabalho docente. O investigador faz menção a estudos internacionais que indicam que apenas 1 em cada 100 jovens quer ser professor e que os pais tendem a desincentivar os filhos a seguirem essa via profissional. Refere ainda o desconhecimento dos jovens em relação à estrutura complexa da carreira docente e às regras dos concursos que possibilitam o acesso à mesma.

Luís Catela Nunes concorda que a avaliação da qualidade dos professores à entrada da profissão e o fornecimento de ferramentas adequadas aos jovens que querem ser professores são essenciais para se garantir um equilíbrio entre as necessidades de quantidade e de qualidade de professores nas escolas portuguesas.

A falta de professores, refere Luís Catela Nunes, irá dizer respeito a todos e será transversal ao ensino público e ao privado. Para fazer face a esta escassez, os estabelecimentos de ensino privados terão que aumentar os salários dos professores. As propinas, consequentemente, aumentarão para as famílias. Este é, no entanto, um problema de equidade, que vai afetar mais aqueles que têm menos possibilidades para pagar o acesso ao ensino ou a mecanismos que complementem a falta de professores nas escolas, como por exemplo, explicações.

Veja aqui o debate completo.

 

 

 

 

What's happening