Na era dos dados continuamos sem utilizar o GPS?
News | 12 March 2021 Na era dos dados continuamos sem utilizar o GPS?

O processo de tomada de de-cisão é um processo bas-tante complexo. O decisor apoia-se num conjunto de evidências o mais alargado possível e utiliza a sua experiência para conseguir traçar um rumo. A psicologia tem-nos demonstrado que o ser humano é inconsistente, enviesado e imperfeito neste processo, o que pode levar à tomada de decisões erradas. É aqui que a ciência dos dados e algumas das ferramentas desenvolvidas no Nova SBE Data Science Knowledge Center nos podem ajudar. Por exemplo, um simples algoritmo que utiliza os dados das decisões passadas como regra de decisão tem uma performance melhor do que a decisão do ser humano (HBR: Miller, 2018). Estas ferramentas de apoio à decisão precisam de um elemento chave — dados.

No contexto pandémico, os decisores políticos são enfrentados diária e semanalmente com a necessidade de tomarem um conjunto de decisões importantes: restrição de circulação, encerramento do comércio, encerramento de escolas, etc. Não é imediatamente claro se estas decisões conseguem gerar o efeito pretendido — diminuir o número de infeções —, ou se por vezes não têm qualquer efeito, ou até se não podem gerar o efeito contrário. Por exemplo, a decisão de encerramento de supermercados da parte da tarde foi criticada por gerar aglomeração durante as manhãs, o que poderia levar a um aumento da transmissão. Sem dados, nunca saberemos. Como podemos avaliar se as escolas ou os transportes públicos são ou não zonas seguras quando se desconhece a origem de mais de um terço das infeções?

Tendo em conta a evidência da psicologia, podemos concluir que a maior parte das decisões será inconsistente e enviesada, talvez mais influenciada por fatores emocionais do que em fatores objetivos. Conseguir tomar decisões de forma consistente e não enviesada numa pandemia requer, assim, uma fundamental recolha e tratamento de dados de qualidade. Esses dados passam, por exemplo, por uma documentação apropriada dos casos de infeção, bem como um contact tracing geral e sistemático. Para além desses dados de base, existem ainda outras ferramentas de dados third-party que podem ser reunidas, tais como dados de comunicações, dados viários, dados de transportes e dados de transações financeiras. Nesta recolha de dados colocam-se, obviamente, as habituais restrições de privacidade e uma necessidade imperativa de anonimato que garantam a segurança do cidadão individual. Por outro lado, a velocidade a que a informação fica disponível é também um fator importante numa pandemia que avança diariamente a um ritmo muitas vezes inesperado. Atrasar uma decisão por 48 horas pode resultar num aumento substancial do número de novos casos. Um organizado sistema de recolha, tratamento e, principal-mente, análise dos dados permite ao decisor ter mais um auxílio à navegação no meio de um nevoeiro com muita incerteza. Esse auxílio pode apontar o caminho a seguir. Afinal de contas, sempre é melhor utilizar o GPS.

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