“Identificação de perfis de risco para o desenvolvimento de nefropatia diabética” é o nome do projeto que junta o corpo clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) à equipa multidisciplinar da Nova SBE Data Science Knowledge Center, com o objetivo de evitar a progressão da doença.
O trabalho é financiado pela Fundação “la Caixa”, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social e do projeto “Data for Change”, que prevê a probabilidade de desenvolvimento da nefropatia diabética em doentes com diabetes mellitus tipo 2.
A APDP arma que se trata de uma complicação que afeta entre 10% a 20% das pessoas com diabetes tipo 2 mas que, se existir um controlo dos fatores de risco, pode ser evitada.
“A nefropatia diabética é uma das complicações associadas à diabetes e é mais frequente em pessoas com valores de glicemia fora de controlo. Além disso, o início da diabetes mellitus tipo 2 é mais difícil de delimitar o que dificulta a determinação do tempo até existirem complicações”, contextualiza o investigador da APDP Rogério Ribeiro.
Para uma perceção do impacto, explica que, "em 2018, a nefropatia diabética foi responsável por 31,5% dos doentes em diálise regular, isto é, um terço dos doentes que iniciam um tratamento de diálise fazem-no devido a uma complicação renal relacionada com a diabetes”.
O projeto foi criado com o objetivo desenvolver um protótipo de um modelo preditivo que informe quais os níveis de risco para o desenvolvimento de nefropatia na população diabética.
Por sua vez, a informação, extraída a partir da análise de dados históricos dos Registos Clínicos Eletrónicos da APDP, vai permitir que os médicos determinem outros fatores e indicadores que condicionem a evolução da doença.
“Um dos sinais precoces da nefropatia é a existência de pequenas quantidades de albumina na urina e sua presença significa que a função renal se está a deteriorar,” referiu o diretor clínico da APDP, João Filipe Raposo.
Alerta que “o agravar da situação pode levar à insuficiência renal, em que o rim deixa de ser capaz de realizar a sua função de purificação e é necessário recorrer à hemodiálise para que o sangue seja purificado. Como grande consequência temos uma redução na qualidade de vida da pessoa com diabetes acompanhado de grandes custos financeiros e sociais”.
João Filipe Raposo defende ainda que “é preciso referir que nem todas as pessoas com diabetes vão desenvolver doença renal, se existir um controlo adequado da glicemia e da pressão arterial entre outros fatores” e ressalva que a nefropatia diabética “pode e deve” ser prevenida.
“É isso que tentamos alcançar com este projeto permitindo que as equipas médicas atuem proactivamente e evitem a progressão da doença”, remata.
A APDP sublinha que a incidência da diabetes tem vindo a aumentar, apontando dados de 2019, que dão conta que o país regista entre 60 mil a 70 mil novos casos de diabetes todos os anos, a maioria do tipo 2 e que cerca de 8% da população está registada como tendo a doença.
O projeto “Identificação de perfis de risco para o Desenvolvimento de Nefropatia Diabética” foi o vencedor da primeira edição do programa “Data for Change”, realizada em 2019, que contou com candidaturas de mais de 60 organizações.