93% das organizações sociais em Portugal não têm recursos para analisar os dados que recolhem
News | 14 September 2020 93% das organizações sociais em Portugal não têm recursos para analisar os dados que recolhem

Aesmagadora maioria das organizações sociais em Portugal, desde lares e centros sociais a associações e fundações ligadas à educação, saúde ou proteção ambiental, admite não ter recursos para analisar os dados que recolhe. Apenas 7% dizem ter capacidade financeira para a implementação de ciência de dados e só 9% têm os recursos técnicos necessários para o fazer, conclui um estudo da Nova SBE Data Science Knowledge Center.

No estudo, participaram 243 organizações nacionais e mais de três quartos (77%) não sabem o que é a ciência de dados, ou seja, análise de dados (data science, em inglês). Apenas 14% tiveram formação na área ou algum tipo de transformação digital nos últimos dois anos.

Apesar de não porem em prática a análise dos seus dados para maximizarem e melhorarem as suas atividades, a grande maioria destas associações recolhe dados. Cerca de 82% fazem-no fisicamente, em papel, e 68% de forma digital. O problema, conclui o estudo, é que pouco mais de metade sabe o que fazer a partir desses dados.

“Ou seja, existe ainda bastante incerteza por parte destas organizações em como atuar com base nos dados que recolhem, não estando os potenciais benefícios da aplicação da Ciência de Dados nas suas atividades diárias a ser maximizados”, lê-se no comunicado do Data Science Knowledge Center. “Após explicar o conceito e aplicações desta ciência, 78% das organizações conseguem ver o benefício da sua implementação e mais de metade (53%) conseguiram identificar as vantagens da aplicação de Ciência de Dados nas suas atividades.”

Para Lénia Mestrinho, diretora executiva da Nova SBE Data Science Knowledge Center, não é surpreendente que a esmagadora maioria das organizações sociais não tenha recursos para tratar os dados que recolhe. “Infelizmente, não me surpreende. Contudo, é efetivamente um número bastante alto, daqueles que nos fazem refletir nos desafios do sector e também nas potenciais soluções que podemos criar. Existe uma grande necessidade de profissionalizar a gestão destas organizações.”

Analisar dados permite, por exemplo, aumentar o número de crianças vacinadas, otimizar a resposta a resposta de emergência em caso de acidentes rodoviários ou identificar embarcações de pesca ilegal, como aponta a responsável pelo centro de investigação da Nova SBE.

“Um dos pontos positivos da ciência de dados é a sua transversalidade. Uma organização pode tirar partido da mesma nas áreas de marketing, de recursos humanos, financeira, logística, entre muitas outras. No caso das organizações sociais os casos de uso são variadíssimos”, aponta Lénia Mestrinho. Um desses exemplo é um projeto que o centro de investigação criou com a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, para criar um modelo de previsão de risco de desenvolvimento de doença renal nas pessoas diabéticas.

Outra das utilizações eficazes é usar os dados de uma organização para melhorar as oportunidades de recolha de fundos ou doações “e para identificar o nível de risco de abandono de cada doador, de forma a que a organização possa atuar proativamente, não perdendo esse financiamento”.

O QUE FALTA FAZER?

Parte da solução para a distância que estas organizações ainda têm da ciência de dados passa pela formação. “A nível geral é preciso formar mais talento com este tipo de competências. É algo em curso, mas vai demorar o seu tempo até que existam pessoas suficientes no mercado para responder à procura”, defende Lénia Mestrinho. Mas ainda há outros desafios, como o facto de a elevada procura fazer com que os salários sejam “relativamente altos”.

“Atualmente, temos as grandes empresas, como as start-ups, a equiparem as suas equipas com analistas e cientistas de dados, ou mesmo a criarem departamentos especializados para o efeito. É uma tendência em crescimento em Portugal, mas longe de ser algo consolidado. A maioria das empresas está ainda a tentar perceber como pode tirar partido dos dados para a criação de novos produtos ou serviços, ou para uma tomada de decisão mais informada em áreas chave.”

Além de formar pessoas, diz a diretora do centro de investigação, também é preciso informar estas organizações sobre o potencial da utilização dos dados. “Poderíamos desenhar e criar apoios destinados à formação e a projetos na área da ciência de dados”, defende.

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