18 jan '24
Seminários | quinta-feira NOVA SBE HEALTH ECONOMICS & MANAGEMENT SEMINAR SERIES | Uma Teoria da Concentração do Mercado Hospitalar: Pacientes, Médicos e o Hospital como Plataforma

UMA TEORIA DA CONCENTRAÇÃO DO MERCADO HOSPITALAR: PACIENTES, MÉDICOS E O HOSPITAL COMO PLATAFORMA

Na edição deste mês da NOVA SBE HEALTH ECONOMICS & MANAGEMENT SEMINAR SERIES, Luís Sá, doutorado em Economia pela Universidade do Minho, cujo interesse de investigação se situa na fronteira entre a Organização Industrial e a Economia da Saúde, irá discutir: Uma Teoria da Concentração do Mercado Hospitalar: Pacientes, Médicos e o Hospital como Plataforma

RESUMO:

A concentração crescente tem sido uma caraterística marcante dos mercados hospitalares dos EUA nas últimas duas décadas; a Europa parece estar a seguir um caminho semelhante. Entretanto, os hospitais são responsáveis por uma parte crescente do emprego dos médicos. Estas dinâmicas de mercado podem ser explicadas pela onda de fusões de hospitais, que dura há décadas, e pelo consequente aumento do poder de mercado dos hospitais, que se reflecte subsequentemente no mercado de trabalho dos médicos. 

Este artigo apresenta uma teoria alternativa da concentração do mercado hospitalar baseada nos efeitos de rede. Neste caso, os hospitais são modelados como plataformas de dois lados que facilitam (e rentabilizam) a interação entre doentes e médicos. Enquanto efeitos de rede suficientemente fortes podem conduzir ao resultado "o vencedor leva tudo" observado nalguns mercados hospitalares, a diferenciação horizontal - outra caraterística que define esses mercados - há muito que tem vindo a ser demonstrada como impedindo esse resultado.

Conciliamos estes dois factos analisando as assimetrias exógenas da procura e tentamos estabelecer em que condições um único hospital surge como o único fornecedor num mercado.

SOBRE A APRESENTAÇÃO:

O nosso seminário em janeiro sobre dinâmica de mercado hospitalar foi um enorme sucesso!

🏥💡 Luís Sá abordou as tendências de aumento da concentração hospitalar nos EUA, uma tendência que está gradualmente a ganhar terreno na Europa também. A apresentação focou-se num novo quadro teórico de concentração de mercado baseado em efeitos de rede entre médicos e pacientes, com insights intrigantes sobre resultados de "vencedor leva tudo" e diferenciação horizontal nos hospitais.

Numa perspetiva mais técnica, o trabalho de Luís Sá encara o hospital como um mercado (também conhecido como plataforma), ou seja, um ponto de encontro entre médicos e pacientes que leva à concentração. A motivação inicial vem do contexto americano. Podemos transpor isso para o contexto português (ou europeu) no sentido de que o setor privado precisa de oferecer carga de trabalho suficiente aos médicos para os poder recrutar (pelo menos em algumas especialidades médicas, isto pode ser verdade). Isto corresponderia à tendência dos grandes prestadores privados de cuidados de saúde comprarem clínicas mais pequenas por todo o país, o que lhes permite gerar demanda suficiente para procedimentos eletivos e funciona como um incentivo à concentração. Os pacientes são mais propensos a comprar planos de saúde e seguros de saúde e a serem leais devido ao prestador ou seguradora que fornece acesso a uma base maior de médicos. O setor público já está concentrado por natureza, o setor privado parece começar a lutar contra essa concentração em algumas áreas.

O modelo de Luís Sá aborda o ponto de como a competição por profissionais (médicos) se desenrola, num contexto de demanda assimétrica. A assimetria na demanda pelos serviços de um prestador dá-lhe uma vantagem em oferecer melhores salários. Num mundo sem atritos, isso pode levar a um mercado totalmente concentrado (ou seja, todos os médicos acabam por estar num único prestador). No entanto, se os pacientes tiverem uma preferência, por qualquer motivo, incluindo a localização geográfica, por um dos prestadores, e essas preferências forem heterogéneas (diferentes pacientes têm preferências diferentes), essa característica pode contrariar o suficiente a externalidade de rede (mais pacientes fornecendo mais receitas para terem melhores ofertas salariais que atraiam mais médicos que atraiam mais pacientes, etc.).

O artigo analisa as forças para a concentração de mercado (no momento, relacionadas com o mercado de profissionais de saúde/médicos). Num sentido mais amplo, a análise explora a analogia do hospital como uma plataforma (semelhante a plataformas tecnológicas) que faz a ligação entre pacientes e médicos. Tecnicamente, há uma tensão entre externalidades de rede, que favorecem a concentração, e diferenciação horizontal, que funciona na direção oposta. Compreender como essas forças operam e em que condições a concentração extrema é provável que surja é a principal contribuição da análise realizada até agora (a versão preliminar é preliminar e mais características serão adicionadas à análise).

Em termos de relevância prática, o modelo pode ajudar-nos a entender as forças dinâmicas para os profissionais de saúde na escolha entre o setor público e privado para trabalhar. A acumulação de massa crítica no setor privado de prestação de cuidados de saúde pode desencadear um movimento de mudança do público para o privado, impulsionado pelo diferencial salarial mas também pela massa crítica/efeitos de rede. Assim, os diferenciais salariais observados podem subestimar o interesse dos profissionais de saúde (médicos em particular) em escolher o setor privado. Como segunda implicação, promover efeitos de rede no SNS de alguma forma também é uma forma para o setor público compensar os diferenciais salariais. Isso também levanta a hipótese de que evoluções tecnológicas que diminuam o papel da massa crítica de profissionais de saúde (tradicionalmente mais concentrados no setor público) levarão a um aumento da escolha do setor privado (mesmo que o diferencial salarial não mude).

Fiquem atentos para mais trabalhos inovadores sobre economia da saúde! #MercadosHospitalares #EconomiaDaSaúde #Pesquisa

SOBRE LUIS SÁ:

Luís Sá é um "teórico aplicado" cujo interesse de investigação se situa na fronteira entre a Organização Industrial e a Economia da Saúde. O Luís doutorou-se em Economia na Universidade do Minho, onde foi orientado por Odd Rune Straume e onde atualmente investiga e ensina. O Luís tem estudado a forma como a interação entre hospitais determina os tempos de espera e a qualidade da prestação de cuidados em contextos competitivos que reflectem atributos dos mercados de cuidados de saúde como a inércia da procura, a complexidade da avaliação da qualidade dos cuidados, o afastamento da maximização pura do lucro e as restrições regulamentares. Recentemente, tem-se interessado também pelas Experiências Comportamentais em Saúde.

No ano passado ganhou o Prémio Pedro Pita Barros 2022 na Conferência Nacional de Economia da Saúde organizada pela APES (Associação Portuguesa da Economia da Saúde)

NOVA SBE HEALTH ECONOMICS & MANAGEMENT SEMINAR SERIES | Uma Teoria da Concentração do Mercado Hospitalar: Pacientes, Médicos e o Hospital como Plataforma
  • De 18 janeiro 2024 11:00
  • Ate 18 janeiro 2024 13:00
  • Local Nova SBE | Room B127