Diferenças de género nos diferentes sistemas de avaliação: o papel do género do professor
Notícias | 06 junho 2022 Diferenças de género nos diferentes sistemas de avaliação: o papel do género do professor

Neste projeto comparamos os resultados obtidos pelos alunos no final do ensino secundário em duas formas de avaliação diferentes: as notas dadas pelos professores e as notas dos exames.

Tem sido discutido que peso atribuir a cada uma destas formas de avaliação, por exemplo no acesso ao ensino superior, e há até quem proponha acabar com os exames. É relevante perceber as implicações destas diferentes opções.

Num trabalho anterior já tínhamos visto que quando comparamos exames e notas de professores, em média e em termos relativos, os rapazes são favorecidos nos exames e as raparigas nas notas dadas pelos professores.

Isto implica que se aumentarmos o peso dos exames no processo de seleção para o ensino superior, provavelmente entrarão mais rapazes e se eliminarmos os exames provavelmente agravar-se-á o desequilíbrio de género existente.

Isto é algo que já tínhamos verificado em Portugal e que já foi também verificado para outros países.

O que acrescentámos agora foi analisar se esta diferença de comportamento dos rapazes e das raparigas nos diferentes tipos de avaliação pode ser explicada pelo género do professor.

Sabemos que a maioria dos professores são mulheres e pensámos que essa poderia ser uma explicação para os resultados.

Para estudar esta questão recorremos à base de dados administrativos do ensino em Portugal e usamos dados para mais de 20.000 professores e 400.000 alunos que realizaram exames no 11º e/ou no 12ºano em 12 disciplinas diferentes, e que cobrem todas as áreas, entre 2008/09 e 2016/17.

A estratégia de identificação baseia-se no facto de estarmos a comparar notas da mesma aluna ou aluno na mesma disciplina, o que permite controlar para o efeito de características da aluna ou aluno não observadas pelo investigador. Para além disso, o facto de termos o mesmo aluno a fazer várias disciplinas, nalguns casos com professores homens, noutros com professores mulheres, também permite controlar para possíveis enviesamentos na alocação dos alunos aos professores homens e mulheres. Assim, podemos descrever os resultados obtidos como um efeito causal do tipo de avaliação e do sexo do professor na nota do aluno.

O que obtivemos foi que, quer com professores homens, quer com professoras mulheres, em média e em termos relativos, é melhor para os rapazes serem avaliados em exames e para as raparigas serem avaliadas pelos seus professores (homens ou mulheres).

Dando um pouco mais de detalhe: o que verificamos é que os alunos, rapazes ou raparigas, tendem a ter nos exames notas inferiores às que os seus professores lhes atribuíram, mas que:

  • Esta diferença é menor para os rapazes (as notas diminuem menos nos exames), quer tenham professores homens ou mulheres.
  • Esta diferença é maior para os professores homens (as notas diminuem mais nos exames).

Conclusão: quando pensamos em alterar os pesos dos diferentes componentes no acesso ao ensino superior, pode haver efeitos inesperados e indesejados.

Pode ser interessante pensar em soluções diferentes como, por exemplo, a solução aplicada na Suécia, onde os alunos podem escolher diferentes formas de acesso, baseadas em critérios diferentes, cada uma com o seu número de vagas pré-definido. Ou seja, alunos com diferentes características podem escolher o processo que mais valoriza as suas competências.

Leia o artigo aqui: https://dx.doi.org/10.2139/ssrn.4048290

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